As flores são doces, meigas, cheirosas, sensíveis e de uma beleza irresistível, por isso atraem de tudo! Moscas, vespas, borboletas, abelhas e até beija-flor, esse meninão carente, brincalhão, de asas esvoaçantes que se delicia e se lambuza no doce néctar com que lhe premiam as flores. Os insetos gostam do corpo da flor e a devoram. O beija-flor gosta de quem a flor é, e por isso não a devora, mas a faz sentir na alma sua carinhosa e picante presença. Os insetos exploram a superfície das flores, mas o beija-flor toca sensível o âmago de seu ser, e a faz sentir como ela é: uma linda flor e não comida de insetos.
O beija-flor se esforça em bater repetida e velozmente suas asas, pois sabe que o que a flor tem a lhe oferecer vale o esforço do vôo desgastante, arriscado, pois parado torna-se alvo dos algozes predadores. Mas o risco vale suas penas, tanto que o contumaz beija-flor sempre volta para receber o que as flores têm a lhe oferecer! uão monótona e sem gosto seria a vida do beija-flor não fosse a doce existência das flores. E quão amargo o destino das flores se apenas servissem de alimento aos esfomeados insetos.
A flor completa o beija-flor e este a faz sentir viva, querida, amada, desejada e a mais bela das flores. Mas pobre da flor que tem sua peculiar beleza e apurada sensibilidade ignoradas, rejeitadas e até feridas pelas insalubres presenças dos insetos que machucam suas sedosas pétalas, maculam sua beleza, mancham o colorido e contaminam o perfume que são peculiares às flores.
As flores e o beija-flor se parecem em suas essências; na sensibilidade de um e de outro; na pureza de suas existências, na paixão que um nutre pelo outro; em seus gostos e em seus desgostos. E a cada novo desejo ela, a flor, exala cada vez mais forte o seu doce perfume como quem chama o beija-flor que a faz lembrar quem ela realmente é: uma linda e sedosa flor.
A pimenta é um condimento picante. A especiaria mais utilizada para temperar alimentos em todo mundo. Ela realça o paladar e faz da comida insossa um manjar memorável. Seu sabor ardente tem propriedades medicinais: funciona como analgésico natural e é muito indicada para dores de cabeça, além de favorecer a digestão e ser capaz de cicatrizar feridas. A pimenta é poderoso antioxidante e, por isso, rejuvenesce de um dia para o outro quem dela, ao menos um pouco, faz uso.
A pimenta é também símbolo de paixão e assim a vida deve ser temperada: com paixão! A paixão está para a vida, assim como a pimenta está para a comida e para quem dela, ao menos um pouco, faz uso. A paixão realça o sabor da vida ou do que quer que se faça com ela. A paixão, assim como a pimenta, tem o poder de cicatrizar as feridas e os desgostos vividos. A paixão sara o amor mal correspondido e reascende valores não reconhecidos. A paixão, assim como a pimenta é antioxidante e por isso rejuvenesce quem dela faz uso regularmente.
As flores e o beija-flor têm em suas relações os significantes da pimenta e, assim, confortam, acolhem e curam um ao outro com as propriedades medicinais que têm a pimenta e a paixão, amenizando dores, cicatrizando feridas e revitalizando-se mutuamente. Só a paixão é capaz de reaver nas flores as características de sua sublime existência e suscitar no beija-flor a coragem de um vôo obstinado.
Mas as flores não pertencem ao beija-flor e este não é o tempo todo das flores. Como pode alguém gostar e cuidar de quem não é seu? A verdade é que ninguém é de ninguém e amar é ter na felicidade do outro a sua própria felicidade. Quem ama não se ocupa em pertencer ao outro, assim, flores e beija-flor se amam em silêncio e se cuidam mutuamente como dois apaixonados que se gostam e por isso se presenteiam com a presença do outro. Cada um se revigora, se cura e se rejuvenesce na presença do outro. Então, porque falar de flores, beija-flor e pimenta, a não ser para lembrar-lhe que a vida deve ser vivida com paixão e que deves se apaixonar por quem é apaixonado por ti sem pretender possuí-lo(a) o tempo todo?
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